Monday, October 15, 2007

o 1º seg. depois do fim


"o primeiro segundo depois do fim"-aço

PROJECTO- SCULP YOUR MIND -plataforma revólver 11 a 31 novembro de 2006


A procura das relações entre coisas, entre pessoas ou entre ambas, no complexo meio artístico, distingue-se, nos nossos dias, pela tentativa de estabelecer graus de comparação entre as suas intrínsecas e íntimas essências. Michael Duncan explicita, deste modo, que o artista contemporâneo é alguém que tenta, no actual contexto, encontrar alternativas para a pintura, a escultura, a vídeo-arte ou mesmo a instalação na suas diversas formas e aportes. Esta necessidade de encontrar paradigmas alternativos ou, como Rosalind Krauss os define, apoiados por suportes mais livres e simultaneamente mais próximos do espectador veio provocar, necessariamente, uma arte aparentemente mais livre de constrangimentos (essencialmente de origem técnica mas não só). Estas formas que se assemelham à primeira vista ao campo da escultura ou a corpos espacializados tridimensionalmente apressam-nos, de algum modo, a tentarmos ir de encontro à forma e não tanto à necessidade de a produzir. Estamos a falar de objectos tridimensionais que também ostentam os tradicionais problemas afectos às texturas, às cores, às formas ou mesmo àqueles que envolvem o peso, a escala, a matéria, etc.

Num tempo que está submerso numa quantidade infindável de imagens visuais com origem diversa, verificamos que se impõe esta opção por um trabalho que parece ir na direcção contrária àquilo que se afigura como mais “realizável”. Talvez como um processo desviante mas, ao mesmo tempo, revigorante, “outras coisas” surgem de forma fresca. Este ofício de cariz escultórico, que não o é, parece retomar algumas questões entretanto esquecidas. As velhas glaciações (Hal Foster) voltam ciclicamente e também à tona – orgânico/artificial – sólido/líquido – efémero/permanente – imóvel/móvel – peso/leveza – e apropriam-se das imagens e das formas bem como dos seus referentes. Voltando a Rosalind Krauss, esta parece ser uma nova forma de pensar, exclusivamente do ponto de vista artístico, talvez mais útil do que imaginar uma nova definição de Arte, de escultura ou mesmo uma nova categoria artística expressa através de uma denominação precisa. Sculp Your Mind propõe um pequeno contributo para este debate em torno da escultura e do seu desenlace futuro. Esta ideia de duplicidade – entre o ser e o não ser – provoca-nos sempre um espaço de liberdade no que diz respeito à manipulação formal e, por outro lado, dá-nos toda a liberdade criativa no acto do fazer. Retira-se daqui o peso da hiperinterpretação, àquilo que Susan Sontag chama de desvio do objectivo primordial – aquilo que parece ser e é o que é. Deste modo, tudo, mas tudo, parece ser possível de conceber, apesar de nem tudo ter a possibilidade de vir a ser.

Pedro Cabral Santo, Julho de 2006

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